domingo, dezembro 5

Cinema feito por índios cresce e se consolida no Brasil


Existe um cinema novíssimo: os filmes feitos pelos cineastas indígenas. São documentários sobre o cotidiano das aldeias, memórias das comunidades, eventos importantes das tribos. Que vêm recebendo prêmios no Brasil e no exterior. Movimento que, no Brasil, data do fim dos anos 1990 e teve como berço o projeto Vídeo nas aldeias. Mas, no mundo, surgiu a partir do fim dos anos 1970, com trabalhos na Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Alasca, México, Bolívia, realizados basicamente pela primeira geração de índios que frequentou a escola, a cidade e a universidade.

Kene Uxi, As voltas do Kene acaba de ganhar menção honrosa no Forumdocbh, importante mostra mineira dedicada ao cinema documental. O diretor do filme é Zezinho Yube, de 27 anos, da comunidade huni kui, território indígena Praia do Carapanã, aldeia Mibayã, no Rio Tarauacá, Acre. Agente agroflorestal, ele já realizou, desde 2005, quatro outros filmes: Novos tempos; Manã Bai, A história do meu pai; Katxa nawa, Festa da fertilidade; Já me transformei em imagem. Em dezembro, começa a edição de A festa da iniciação. Todos com trechos no YouTube.
“O prêmio é reconhecimento do nosso trabalho. Temos muitos cineastas e filmes de qualidade. Está crescendo o espaço para realizadores indígenas”, conta Zezinho Yube. O cinema, para ele, é ferramenta de comunicação e expressão, com significado político, que tem proporcionado intercâmbio entre as aldeias. “Estamos fazendo trabalho de revitalização cultural”, afirma, satisfeito em ver revalorizadas festas e pinturas corporais, além do orgulho de ser índio, entre outras coisas. Sua obra é toda documental e já foi exibida em Nova York, no Museu do Índio, e em Washington (EUA).

Zezinho conta que, às vezes, pensa em realização de obra de ficção baseada na história de seu povo. Está trabalhando com o irmão em projeto de criação de ponto de cultura, visando à aquisição de equipamentos. Desafio posto aos cineastas, para o diretor, “é resistir, com a nossa cultura, a nossa língua, do jeito que somos, a um entorno que quer nos dominar, nos manipular”, explica o fã de Glauber Rocha.

Missões Ariel Ortega tem 24 anos, é guarani, nasceu em Missiones (Argentina). Mora em Jacuí (RS), é professor bilíngue, tem trabalho com jovens. Já dirigiu o curta Nós e a cidade e um média-metragem premiado: Duas aldeias, uma caminhada. Está realizando mais dois filmes, um sobre a espiritualidade (que, observa, é característica de seu povo) e outro sobre as missões jesuítas, onde existe uma grande aldeia que, além do Brasil, chegava ao Paraguai e à Argentina.

“Os filmes trazem nosso ponto de vista, a sabedoria dos guaranis e fortalecem a nossa cultura”, observa Ariel. Conta que, desde criança, está acostumado a ver brancos filmarem índios – “é sempre tudo feito rápido”. Avisa que as crianças precisam ver os filmes dos cineastas indígenas até para não chegarem à aldeia imaginando que se vive hoje como há 200 anos. Sonhos? “Um grande filme sobre a criação do mundo segundo os guaranis”, conta. Superprodução? “Sim”, responde, contando que vários, nas aldeias, têm jeito de ator. A obra teria narração do avô Dionísio Duarte, até hoje, aos 82 anos, considerado o cacique geral dos Mbya.
Do Portal Uai

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